Nos idos dos anos 1980, a paranaense Josefa Machado fixou residência na Colônia Tancredo Neves, na zona rural de São Félix do Xingu, no sul do Pará, se dedicando à fruticultura. Hoje, aos 56 anos, ela colhe cacau, açaí, goiaba, cajá, caju, tamarindo, acerola e graviola que são processadas em polpas para comercialização no mercado local, através da Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), da qual é uma das fundadoras.
Criada há 13 anos, a Associação atualmente representa 43 famílias produtoras. “O intuito foi dar mais independência financeira às mulheres, que passaram a aproveitar mais as frutas de seus quintais, por isso o nome da nossa marca é ‘delícias do quintal’. Então, nós mesmas fabricamos e comercializamos e recebemos o dinheiro, o que agrega na renda familiar e valoriza o trabalho das mulheres na roça”, explica Josefa que é a presidente da Associação.
Essa colaboração entre as mulheres do campo já viabilizou diversas conquistas como o acesso à políticas públicas tais quais os programas de Alimentação Escolar (Pnae) e o Alimenta Brasil (PAB), o que garante a aquisição da produção das polpas e consequentemente, a geração de renda.
Na primeira semana de agosto, mais um avanço significativo: 26 famílias que integram a Associação foram contempladas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV Rural), do Governo Federal, com recursos atendimento de produção e a melhoria subsidiadas de unidades habitacionais rurais.
Saiba mais sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, instituído pela Medida Provisória nº 1.162, de 14 de fevereiro de 2023, convertida na Lei nº 14.620, de 13 de julho de 2023. Aqui.
O empenho da Associação nesta conquista foi fundamental. “Começamos com o levantamento de famílias que poderiam acessar o benefício, e que manifestaram o desejo de participar e organizamos toda a parte da documentação. Futuramente, queremos trabalhar para incluir outras famílias que não são nossas associadas, mas que precisam de moradia mais digna pois a gente quer a melhoria da qualidade de vida na nossa comunidade”, ressalta a fruticultora.

Autonomia financeira e social que transforma
Para a socióloga rural Ruth Almeida, doutora e docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), na reflexão sobre o associativismo feminino no meio rural, deve-se pontuar três elementos fundamentais: o emporamento econômico e social, o fortalecimento do capital social e do capital político para o processo de inclusão, e o bem-estar das mulheres.
“Podemos destacar o emporamento econômico e social. Diante da produção doméstica, invisibilizada por se dar nos próprios quintais, espaços de responsabilidade das mulheres, o associativismo vem a ampliar essa autonomia financeira e o reconhecimento social”, aponta a professora.
Outro fato a ser considerado, segundo ela, é quando as mulheres se juntam para se articular enquanto produtoras, o que fortalece o que chama de capital social. “Justamente é esse fortalecimento político que possibilita a essas mulheres acessarem políticas públicas, pois sem o associativismo, sozinhas, seria muito mais difícil”, ressalta.
Ruth Almeida conclui enfatizando a importância da capacidade de organização para a transformação da realidade dessas mulheres e dos locais onde atuam.
“Devemos ressaltar a conquista coletiva e de inclusão, um processo, para além da geração de renda”, finaliza.

Políticas públicas são fundamentais no processo
Para acessar o programa Minha Casa Minha Vida Rural, a Associação contou com o apoio do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, responsável por elaborar o Cadatro Ambiental Familiar (CAF) das famílias, de acordo com o relato da presidente Josefa Machado.
No Pará, mais de 28 mil mulheres – artesãs, assentadas da reforma agrária, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, lavradoras, pescadoras artesanais, entre outras trabalhadoras do campo – são atendidas direta e regularmente pela Emater, de acordo com dados do Relatório Institucional 2023.
Por Paula Portilho
Fotos: arquivo pessoal