A cada ano, 17 mil mulheres brasileiras recebem o diagnóstico de câncer de colo de útero. É o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama e do colorretal. Além disso, é a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), a região Norte é a única no Brasil em que a incidência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama e colorretal. Serão cerca de 780 novos casos no Pará e 110 em Belém até o final do ano de 2024.
Os números já deixam clara a importância da campanha Março Lilás, mês dedicado à prevenção do câncer de colo de útero.
Prevenível – O HPV é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de colo do útero. Além disso, há outros tipos de câncer que também podem ser causados pelo HPV, como os de boca e orofaringe, vulva, pênis e canal anal.
Mas, no caso do câncer de colo de útero, a doença PODE ser evitada com a vacinação em massa. Uma pesquisa publicada em 2022 na The Lancet, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, é extremamente animadora sobre a eficácia da vacina contra o HPV no combate ao câncer de colo de útero. Os pesquisadores da Escola de Câncer e Ciências Farmacêuticas da King’s College, de Londres, constataram que a vacina contra o HPV reduziu a incidência do câncer de colo de útero em 87% no grupo de mulheres que participaram da pesquisa e que tomaram a vacina quando tinham 12 ou 13 anos.
A saúde dessas mulheres foi acompanhada pelos pesquisadores desde 2008. É a comprovação científica de que a vacina contra o HPV é uma das armas mais importantes no combate ao câncer de colo de útero, que ela é um recurso capaz de erradicar a doença para as gerações futuras.
“O número anual de mortes por câncer de colo de útero é de cerca de 6 mil e 500 mulheres no Brasil. Veja se não é um absurdo total a gente perder tantas vidas para um câncer que é totalmente prevenível”, destaca a oncologista Paula Sampaio. “Por isso, o resultado dessa pesquisa é tão importante”, comemora a médica. “Se conseguirmos a vacinação em massa contra o HPV, que as pessoas usem preservativo e que as mulheres com mais de 25 anos façam o Papanicolau, anualmente, estaremos no caminho da erradicação do câncer de colo de útero”, resume a oncologista clínica Paula Sampaio.
Metas das OMS contra o câncer de colo de útero – A Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs três metas para erradicar o câncer de colo de útero do mundo.
– Vacinação contra HPV de 90% das meninas e adolescentes de até 15 anos de idade;
– Exame Papanicolau para pelo menos 30% das pessoas com útero de 25 a 65 anos (70% antes dos 35 anos);
– Tratamento no estágio inicial do câncer para 90% da população.
Prevenção – No Brasil, a vacina tetravalente (que protege contra os tipos de HPV que podem causar o câncer) está disponível na rede pública para meninas e meninos entre 9 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida por ser a que apresenta maior benefício pela grande produção de anticorpos e por não ter sido exposta ao vírus. O objetivo é que as crianças e adolescentes sejam vacinados antes de iniciar a vida sexual. “Não se trata de uma vacina contra DST´s (doenças sexualmente transmissíveis), é muito mais do que isso. É uma ferramenta eficaz na prevenção do câncer, mas boa parte da população não está aproveitando essa oportunidade por desinformação e preconceito”, lamenta a médica Paula Sampaio.
A maioria dos casos de câncer de colo de útero tem o diagnóstico em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e a cura. “É angustiante, pois sabemos que é um tumor que poderia ser evitado. Nos países que fazem a vacinação em massa e controle, como a Austrália e Canadá, o número de casos de câncer de colo de útero é muito pequeno. Eles caminham para a erradicação da doença. No Brasil ainda temos uma incidência enorme, apesar de termos um Programa Nacional de Imunização que é referência no mundo, com as ferramentas necessárias para prevenir a doença”, avalia a médica.
Além da vacinação contra o vírus HPV (prevenção primária), outra forma de prevenção é a realização periódica do exame conhecido como Papanicolau (prevenção secundária). A história natural da doença propicia uma intervenção curativa em seus estágios iniciais e as lesões precursoras (lesões que podem virar câncer) são descobertas facilmente no exame preventivo e são curáveis, na quase totalidade dos casos.
O exame preventivo do câncer do colo do útero (Papanicolau) é a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico da doença. O exame pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados. É fundamental que os serviços de saúde orientem sobre o que é e qual a importância do exame preventivo, pois sua realização periódica permite reduzir a mortalidade pela doença. O exame preventivo é indolor, simples e rápido.
Maura Marques, de 49 anos, descobriu o câncer de colo de útero em 2010 no exame preventivo anual. No início, os médicos acharam que era um mioma, mas como o tratamento não teve os resultados esperados, Maura fez mais exames e constatou o tumor em estágio avançado. No mesmo ano, ela passou por uma histerectomia, seguida de quimioterapia, radioterapia e braquiterapia.
Em 2014, Maura descobriu metástase óssea. Na época, o prognóstico era de apenas 3 meses de vida, mas ela não acreditou nisso e procurou outros tratamentos, junto com a médica do CTO Bianca Lastra. “Dizia que eu não tinha um diagnóstico, mas sim um atestado de óbito. Mas fizemos um milagre: combinamos quimioterapia, radioterapia, fiz cirurgias para retirada de três vértebras e superamos a doença”, conta.
Em 2016, mais um susto: nos exames de controle, descobriu nódulos no rim e passou por um novo tratamento. Agora, ela já está fazendo o acompanhamento por um período de 5 anos e a doença está controlada. “O que importa é ter pessoas do nosso lado para nos apoiar”, avalia Maura.
A psicóloga Maria Tereza Cunha, 73 anos, garante que nunca relaxou quando se trata de cuidar da saúde. Em junho de 2014, Maria Tereza fez os exames e nenhum apresentou alterações, mas em agosto de 2015 ela começou a ter uma secreção que evoluiu para sangramento. Com a suspeita de um tumor, repetiu os exames e foi diagnosticada com câncer de colo de útero.
O tumor, de 6 centímetros, estava no endométrio e por isso não apareceu nos preventivos. Ela fez uma cirurgia de histerectomia total, com retirada de útero e ovário, e está concluindo o tratamento com quimioterapia, radioterapia e braquiterapia. “Se eu tivesse relaxado e não fizesse os exames neste ano, minha história poderia ser diferente e quem sabe a doença já teria evoluído para metástase?”, avalia. “Imagino o risco que muitas mulheres passam quando não podem ou não fazem os exames preventivos. Eu faço todos os anos, até porque, em 2000, minha mãe teve câncer de intestino, e por isso eu faço exames além dos mais indicados para rastreamento”, explica. “Se você tem métodos preventivos como a vacina contra o HPV e acesso a serviços médicos, nada justifica deixar de fazer os exames recomendados e prevenir o câncer”, diz ela.
Fonte: Centro de Tratamento Oncológico (CTO)