Voto feminino no Brasil: Justiça Eleitoral expõe acervo sobre a história das sufragistas no Pará

Nesta segunda-feira, 24, celebra-se o Dia da conquista do voto feminino no Brasil, há 93 anos.  A data também é uma forma de recordar a luta de mulheres que lutaram por este direito. “Não imaginava que fazia tão pouco tempo que esse direito foi conquistado para mulheres, é surpreendente perceber como o direito de expressão é algo tão recente”, surpreende-se a estudante e artista Izadora Tuñas, 21 anos, sobre o fato de que há menos de 100 anos esse direito foi conquistado.

“Me sinto forte em saber que faço a diferença no futuro com o meu voto, um direito que agradeço às mulheres do passado que lutaram bravamente por isso. Acredito que ser uma cidadã atenta às melhores propostas políticas que abracem e protejam os direitos e segurança das mulheres é um dever”, ressalta a jovem, pontuando que, em geral, em época de eleição conversa a família e busca propostas e histórico de candidatos e candidatas.

O registro desse momento histórico faz parte da exposição “O alvorecer da Justiça Eleitoral no Pará 1932-1937”, do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Pará (TRE-PA), instalada em novembro de 2024, contendo artefatos e documentos que resgatam a memória do período, incluindo o legado das sufragistas.

“Foi uma luta não só para poder votar, mas poder se representar e se sentir representada. E o Pará foi o primeiro estado brasileiro a iniciar o alistamento eleitoral feminino e teve o diferencial que foi a criação de uma seção chefiada por uma mulher, com funcionárias mulheres, o que não havia em nenhum outro lugar naquele momento [1932]”, destaca o historiador Luis Augusto Barbosa Quaresma, do Tribunal.

Quem visita a mostra acessa dados importantes, que foram coletados através de pesquisas em jornais antigos como Folha do Norte (1896-1974), além de objetos e documentos cedidos por instituições públicas e de arquivo pessoal.

 “Em 1933, as expectativas pelo exercício do voto feminino eram grandes. Pela primeira vez as mulheres foram reconhecidas como cidadãs de pleno direito, puderam votar, candidatar-se e eleger-se em uma eleição histórica para a Assembleia Constituinte. No segundo pleito, em 1934, ocorreu a primeira candidatura feminina paraense, a da professora Maria Antonieta Serra Freire Pontes, que concorreu ao cargo de deputada estadual pelo Partido Liberal, mas acabou não sendo eleita. No ano seguinte, 1935, dentre as mulheres que se candidataram nas eleições municipais, é possível destacar o caso de três eleitas: Egydia Rodrigues da Cunha, a candidata mais votada para o cargo de vereadora em São Caetano de Odivelas, Maria Garcia Gomes, vereadora por Ourém e Rose Blanche Corrêa, eleita prefeita da cidade de Vigia”.

Quase um século depois da instituição do voto feminino, no Pará, nas eleições de 2024, estavam aptas ao voto 3.142.807 mulheres, representando 50,44% do eleitorado paraense (dados fornecidos pelo TRE-PA).

Rosa Machado, 69 anos, assistente social, aposentada, afirma que continuará exercendo seu direito de votar mesmo depois de se tornar facultado para ela que completará 70 anos em novembro.  Rosa diz que quase sempre considera o voto em candidaturas femininas, mas lamenta que seja ainda minoria a eleição de mulheres para cadeiras nos Poderes Legislativo e Executivo. “As mulheres já representam grande parte do eleitorado, porém precisam também ocupar mais espaço em cargos eletivos”, aponta.

Conheça as Sufragistas que lutaram no Pará

ALMERINDA FARIAS GAMA

Nascida em Maceió, em 16 de maio de 1899, veio ainda criança para Belém do Pará, após ficar órfã de pai. Aqui iniciou sua carreira jornalística e literária, escrevendo para periódicos como A Província do Pará. Casou-se em Belém com o poeta Benigno Farias Gama, com quem teve um filho falecido precocemente. Na capital paraense ainda tentou ser membro da Academia Paraense de Letras (APL), sendo rejeitada pelos associados. Em 1929 mudou-se para o Rio de Janeiro, inserindo-se cada vez mais no universo de luta pelos direitos das mulheres.

Já trabalhando, tornou-se presidente do Sindicato de Datilógrafos e foi uma das grandes apoiadoras das ações de Bertha Lutz na causa feminina. Deu continuidade aos seus estudos e se formou advogada, chegando também a presidir a Federação Brasileira Para o Progresso Feminino. Quando das eleições para a Constituinte de 1933, ela e Carlota Pereira de Queirós eram representantes classistas e foram as únicas mulheres eleitas. Almerinda faleceu em 13 de março de 1999 e se destaca como um dos nomes do feminismo negro na luta pelo direito ao voto e participação política.

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ORMINDA RIBEIRO BASTOS

Orminda Ribeiro Bastos nasceu em 1899 no estado do Amazonas, mas começou sua carreira no Pará. Ainda jovem formou-se em Direito e atuava escrevendo na Folha do Norte artigos sobre a causa das mulheres e o direito ao voto feminino.

Grande conferencista, também foi professora de grego no Colégio Paes de Carvalho, membro da Associação Espírita e foi a primeira mulher a pertencer ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP).

Em 1925 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi uma das fundadoras da União Universitária Feminina, além de ter ocupado o cargo de consultora jurídica da Federação Brasileira Para o Progresso Feminino. Junto com Romy Martins Medeiros da Fonseca, foi responsável pela revisão do Estatuto Jurídico da Mulher Casada, ampliando, assim, os seus direitos. Orminda faleceu em 1971 e por meio de seus artigos denunciou a falta de instrução da mulher e clamou pelo direito ao voto e emancipação feminina.

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ABIGAIL MATTOS DE SIQUEIRA RODRIGUES E

ANNA CARREIRA RABELO MENDES

Abigail Esther de Mattos nasceu no Pará, em 7 de junho de 1889, filha do Capitão Manoel Raymundo de Mattos e de Ursulina Lima de Mattos. Com 18 anos já era funcionária do Museu Goeldi, legalmente, como oficial administrativa, porém atuava também em serviços de secretaria e biblioteca. Foi casada com o botânico Rodolpho de Siqueira Rodrigues e trabalhou quase a vida inteira na instituição, sendo transferida apenas em 1935 para a Diretoria-Geral de Produção Vegetal, Indústria e Comércio. Faleceu em 27 de setembro de 1958.

Anna de Aragão Carreira nasceu no Pará, em 31 de julho de 1894, filha do Capitão Francisco Bento Carreira e de Lucinda Aragão Carreira. Com 13 anos já atuava como oficial no Museu Goeldi, executando também atividades de auxiliar na elaboração de catálogos e fichas. No ano de 1934 foi nomeada escriturária almoxarife do laboratório de biologia veterinária do Museu Paraense Emílio Goeldi.

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MARIA ANTONIETA SERRA FREIRE PONTES

Maria Antonieta Serra Freire Pontes, professora e intelectual paraense, foi diretora do Grupo Escolar José Veríssimo Foi também a segunda mulher a dirigir o Instituto Estadual de Educação do Pará e a primeira mulher a chefiar um departamento de educação no Brasil, chefiando a Direção Geral de Educação Pública do Pará.

Escreveu e publicou diversos artigos na revista A Escola com temáticas educacionais e pedagógicas, além de ter escrito o hino do município de Salinópolis. Figura importante na política e na luta pelo direito das mulheres, foi uma das grandes lideranças femininas paraenses.

ROSE BLANCHE DE FREITAS CORRÊA

Rose Blanche Corrêa nasceu em 1909 em São Luís do Maranhão. Foi membro da Legião Feminina Magalhães Barata e era casada com João Jorge Corrêa. Ele, por sua vez, era candidato à prefeitura do município de Vigia, porém, por conta de estar respondendo a um processo, não pôde continuar concorrendo. Assim, Rose assumiu a candidatura do marido. Ela ganhou as eleições no município e se tornou a primeira prefeita eleita do Pará, com 35 anos de idade. Sua gestão, porém, durou apenas dois anos, devido a instauração do Estado Novo por Getúlio Vargas.

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Serviço:

“O alvorecer da Justiça Eleitoral no Pará 1032-1937”

De segunda-feira a sexta-feira, de 8h às 14h

Centro Cultural da Justiça Eleitoral (Rua João Diogo, N° 254)

A previsão é até meados de março aberta para visitação